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SOBRE A ARTE

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Painel de Djanira, pintado em escola de Petrópolis, começa a ser restaurado pela primeira vez


A tela gigante da pintora, que será recuperada: pintura tem partes craqueladas e áreas que

correm risco de cair - Iphan / Divulgação

No alto da Serra, o Liceu Municipal Carolino Ambrósio guarda, quase que escondida, uma obra monumental do modernismo. Longe até dos olhos dos petropolitanos, um painel de Djanira com 12,75 metros de comprimento e 3,50 metros de altura — a maior tela criada pela artista, com data de 1953 — retrata paisagens e cenas típicas da cidade de então. O Museu Imperial, as carruagens, a locomotiva, os trabalhadores da indústria têxtil e de cerâmica ganharam vida nos traços da artista, mas já não têm o mesmo brilho do passado. Deteriorada pelo tempo, a obra começa a ser restaurada pela primeira vez nesta semana.


Na quinta-feira, ela será removida da parede do salão nobre do liceu (o painel foi pintado como uma tela gigante) e levada para o Centro de Cultura Raul de Leone, também em Petrópolis, onde uma equipe de restauradores vai se debruçar sobre cada detalhe. A tela é tombada desde 1982 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que vai acompanhar o processo. O curioso é que Djanira pintou o painel especialmente para a escola, de arquitetura modernista. A vista da sacada do salão, de onde se vê o jardim do Museu Imperial, parece ter inspirado a artista, que morava em Santa Teresa, mas tinha casa em Petrópolis.


— Muitos petropolitanos desconhecem esse painel. Hoje ele fica num salão pouco visitado. A Djanira é uma artista muito significativa do modernismo e da história da arte brasileira. Mas a restauração da tela será aberta ao público, e haverá um trabalho educativo com as escolas da cidade — adianta Claudia Nunes, conservadora e restauradora do Iphan que é de Petrópolis e responsável por fiscalizar todo o trabalho. — É uma obra rara porque no Brasil há poucas pinturas de grande dimensão. Há as batalhas de Pedro Américo, alguns murais de Portinari no Palácio Capanema, mas são poucos os exemplos.


UMIDADE AJUDOU A DESTRUIR

A restauração deve levar oito meses, sendo que, numa primeira etapa, será feito um estudo de toda a obra, conhecida apenas como “Painel de Djanira”. Uma das pesquisas envolve descobrir a tinta que a pintora usou: a hipótese é de que tenha sido a óleo. O painel foi feito quando Djanira, que por muito tempo sofreu com o rótulo de primitivista, já estava no auge.


— É o melhor período dela. Para mim, o colorismo da Djanira é tão extraordinário quanto o de Volpi — afirma o jornalista e curador Leonel Kaz, ex-secretário estadual de Cultura. — No final dos anos 1940 e início dos 1950, ela fez obras primorosas, que trazem o Brasil para dentro da tela de um modo muito intenso, com muito vigor.


Enquanto não começa o restauro, o painel está protegido por uma técnica chamada faceamento: papéis japoneses especiais estão sobre a obra, evitando que a pintura literalmente caia. A umidade é uma das causas da deterioração do trabalho, que tem vários pedaços craquelados ou com descolamento.


Há anos o Iphan pressiona a prefeitura de Petrópolis para a recuperação do trabalho. Claudia Nunes conta que há cerca de dois anos foi assinado um termo de ajustamento de conduta com o Ministério Público Federal para que o município restaurasse a obra.


O secretário de Cultura de Petrópolis, Leonardo Randolfo, afirma que os custos da reforma serão levantados na fase de estudos da obra e que a prefeitura bancará, basicamente, o material. Numa parceria com o Instituto Brasileiro de Museus, o Museu Histórico Nacional vai ceder dois restauradores. No total, a equipe contará com oito pessoas.


— A maior tela da Djanira estava simplesmente largada. Não estava destruída, mas estava sem acondicionamento e manutenção corretos — diz Randolfo, que já pensa em promover eventos na escola para que mais pessoas possam admirar o painel. — Quem sabe o salão não possa abrigar recitais, encontros culturais e leituras dramatizadas?


A existência da tela monumental era desconhecida por Leonel Kaz, fã declarado de Djanira:


— Esse painel merecia lugar de destaque, com uma iluminação bonita e preservação de qualidade. O Brasil não conhece o Brasil: temos coisas belíssimas que são muito pouco vistas.


Djanira, que morreu em 1979, fez de tudo um pouco na vida. Foi boia-fria, trabalhou como cozinheira, com gado e como costureira. Aos 23 anos, foi internada em São José dos Campos para tratar uma tuberculose. Foi lá que começou a desenhar.

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