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SOBRE A ARTE

SOBRE A ARTE

Neil Gaiman investe na Mitologia Nórdica


Wotan (Odin) e a valquíria Brunhilda na obra de Konrad Dielitz

Tornado amplamente conhecido pelo grande público desde os anos 1960 ao ser incluído pela Marvel Comics em seu elenco de super-heróis, Thor, o Deus do Trovão, é parte de um panteão de deuses muito antigos, adorados por séculos nos países escandinavos.


Em Mitologia Nórdica, o aclamado escritor inglês Neil Gaiman (Sandman, Deuses Americanos) vai na raiz desse imaginário para recontar suas principais histórias. Fabulista convicto e narrador de sensibilidade poética ímpar, Gaiman é certamente o melhor nome atual para esta tarefa.


Até pela seu antigo fascínio pelo tema. Em obras anteriores citadas, personagens como Odin (o Pai de Todos, deus supremo), Thor e Loki (o príncipe das mentiras) já haviam aparecido, seja como um dos protagonistas (Odin, em Deuses Americanos, atualmente uma série de TV exibida pelo serviço Amazon Prime), seja como coadjuvantes (Sandman).


Na apresentação do livro, Gaiman chama atenção para o fato de que essa mitologia panteísta quase desapareceu após a disseminação do Cristianismo pela Europa (e vale lembrar que o mesmo aconteceu na África).


Mal comparando, “É como se as únicas histórias conhecidas de deuses e semideuses da Grécia e da Roma Antiga fossem os feitos de Teseu e Hércules. Perdemos muita coisa”, percebe o autor.


Elementos fundadores

Narrador de imenso apreço pela fábula, não é de hoje que Gaiman cria versões próprias e modernizadas de personagens clássicos como A Bela Adormecida e Branca de Neve (que se beijam, em A Bela & A Adormecida), João Pestana (entidade mítica do sono, recriado em Sandman) etc.


Em Mitologia Nórdica, o inglês resiste à tentação da revisão modernizadora, atendo-se às narrativas consagradas há milênios. Desta forma, Gaiman consegue enfeixar 15 contos (mais texto de apresentação e glossário) em ágeis 288 páginas.


A leitura é um deleite, não apenas pelo sabor de fantasia clássica, mas também pelo texto apurado de Gaiman.

É como se ele estivesse tentando resgatar a arte há muito perdida da fábula, investindo em narrativas curtas, diretas e sem firulas, mas carregadas de significados.


Ele não tentou, como é tendência em muitos narradores modernos, “descomprimir” a narrativa, uma estratégia para esmiuçar nos mínimos detalhes contos clássicos (ou mesmo contemporâneos, como Star Wars), adicionando-lhes cada vez mais capítulos, sequências, prequels, spin offs e outros recursos atuais.


Em Mitologia Nórdica, Gaiman faz um giro completo na saga dos deuses dos vikings, começando na criação da vida e terminando no fim do mundo, o chamado Ragnarok.


No miolo, muitas aventuras estreladas, claro, por Odin, Thor e Loki, mas também por Balder (o mais belo e gentil dos deuses), Tyr (deus da guerra), Freya (deusa do amor), valquírias (que recolhiam os corpos dos mortos em batalha), gigantes de gelo e fogo, gigantes de múltiplas cabeças, anões, elfos e todos os outros elementos fundadores que influenciaram a fantasia moderna, desde Tolkien (Senhor dos Aneis) até George R. R. Martin (Game of Thrones) e além.


Mas entre todos os (magníficos) contos, um merece destaque pelo esplêndido bom humor: O Hidromel da Poesia, no qual descobrimos de onde vem a poesia: a boa e a ruim – e por que esta última costuma cheirar mal...

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