A extravagância dos artistas da Florença do século 16
Pescoços longos, ventres rechonchudos, cores berrantes: para se destacar de mestres do Renascimento como Da Vinci, maneiristas desenvolveram estilo inusitado e, às vezes, bizarro.
No mundo da arte, quem quiser se sobressair tem de desenvolver um estilo próprio. Foi dessa forma que os maneiristas entraram para a história da arte. "Elegante, refinado, artificial", descreve o historiador da arte Bastian Eclercy a nova geração de artistas florentinos no início do século 16.
Esses artistas queriam se destacar de grandes mestres do Renascimento como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael Sanzio. Cores berrantes, membros desproporcionais, formas e perspectivas inusitadas caracterizam as obras do Maneirismo de Florença. "Um estilo caprichoso e extravagante, por vezes bizarro", diz Eclercy.
Pintores como Rosso Fiorentino também foram mais ousados com os motivos clássicos do que, por exemplo, Rafael. Isso também se evidencia na exposição. Enquanto Madona Esterházy (por volta de 1507-1508), de Rafael, é marcada por cores suaves e uma estrutura simples e regular, a Virgem com Menino e São João Batista Criança (por volta de 1515) é mais dinâmico e atrevido: os traços dos rostos dos dois garotos têm algo de caricatura e, através do vestido vermelho da Madona, podem-se ver os seios e o umbigo.
Muitos quadros importantes vêm, naturalmente, de Florença, o centro do Maneirismo. O martírio dos dez mil, de Jacopo Pontormo, retrata o sofrimento humano com intensa corporeidade. O retrato do duque Alessandro de Médici, de Giorgio Vasari, mostra o governante florentino em armadura e pertence à mundialmente famosa Galeria Uffizi.
Fica clara a influência dos Médici, poderosa família de banqueiros florentinos, na arte.
Origem do termo Maneirismo
Giorgio Vasari não era somente um artista talentoso e pintor da corte dos Médici, mas foi também de grande importância para a historiografia da arte. Todo um capítulo da exposição é dedicado a ele. A segunda edição de sua obra-prima literária Vite (Vidas), de 1568, é considerada até hoje o primeiro tratado sistemático da história da arte. Ele contém a primeira abordagem teórica do Maneirismo.
O nome do estilo que antecedeu ao barroco também foi obra de Vasari: em italiano Maniera (maneira) de mano (mão) significa também "forma" ou "estilo", descreve uma assinatura individual que caracteriza a arte dos maneiristas. Séculos mais tarde, o historiador de arte inglês John Shearman rebatizou ironicamente esse período da história da arte como The stylish style, algo como "o estilo estiloso".