Clarice Lispector - confira trechos das obras da escritora
Adorada nas redes sociais, com frases e trechos de obras propagados e compartilhados (nem sempre de sua autoria, é preciso dizer), a escritora deixou seus leitores órfãos muito cedo: morreu aos 56 anos, em 1977, vítima de um câncer. Suas obras são hoje referência na literatura brasileira, e inspirou gerações inteiras através de seus contos, romances e ensaios, consolidando-se uma das mais importantes escritoras do século XX.
Ucraniana, Clarice chegou ao Brasil com a família em 1922. Em terras tropicais, viveu no Recife (período que a inspirou em sua criação, como no sucesso "A Hora da Estrela", que narra a épica trajetória de uma nordestina retirante) e no Rio de Janeiro, onde permaneceu até sua morte. Suas obras encantam pelas tramas psicológicas e a retratação de cenas simples do cotidiano, como é possível encontrar no conto "Felicidade Clandestina", de 1971.
Ao longo de sua carreira, Clarice colecionou coroações literárias, garantindo, por exemplo, o prêmio de melhor livro pelos romances "A maçã no escuro", e "Aprendizagem, ou O livro dos prazeres", premiado com o Golfinho de Ouro.
Obras como "Laços de família", "A Hora da Estrela", e "O Ovo e a Galinha", são títulos que garantem à Lispector a posteridade e a imortalidade na literatura e no imaginário brasileiro.
Veja alguns trechos de suas principais obras. Confira a seguir:
“A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a tricotara. A rede perdera o sentido e estar num bonde era um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo. E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito. Por quê? Teria esquecido de que havia cegos? A piedade a sufocava, Ana respirava pesadamente." Trechos do livro Laços de Família (1960)
“Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade.” Felicidade clandestina (1971)
“Lucrécia Neves não seria bela jamais. Tinha porém um excedente de beleza que não existia nas pessoas bonitas. Era basta a cabeleira onde pousava o chapéu fantástico; e tantos sinais negros espalhados na luz da pele davam-lhe um tom externo a ser tocado pelos dedos. Somente as sobrancelhas retas enobreciam o rosto, onde alguma coisa vulgar existia como sinal apenas sensível do futuro de sua alma estreita e profunda." A cidade sitiada (1949)
“Essa mulher que matou os peixes infelizmente sou eu. Mas juro a vocês que foi sem querer. Logo eu! Que não tenho coragem de matar uma coisa viva! Até deixo de matar uma barata ou outra. Dou minha palavra de honra que sou pessoa de confiança e meu coração é doce: perto de mim nunca deixo criança nem bicho sofrer.” A mulher que matou os peixes (1968)
“Como gostava de seu quarto; sentia seu cheiro de túnel quando se aproximava e estava bem, bem dentro dele enquanto entrava. Notava que antes de sair esquecera de abrir as janelas e um cheiro dela própria exalava-se de cada canto – como se voltando da rua se encontrasse em casa esperando. O lustre (1946)