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SOBRE A ARTE

SOBRE A ARTE

O Divino produz uma rica arte


​A folia, a dança, a música, o fazer artesanal dos delicados símbolos religiosos da Festa do Divino do Espírito Santo – a pomba esculpida em madeira, a bandeira delicadamente bordada no vermelho e branco, as imagens dos santos retratadas em lenços, caixinhas e quadrinhos; os pequenos altares assinados pelos santeiros. É riquíssima a arte nascida dentro da manifestação popular, que festeja a terceira pessoa da Santíssima Trindade, o Espírito Santo, que desceu sobre os apóstolos 50 dias após a Páscoa e sete dias depois da “ascensão aos céus” de Jesus, uma das principais datas para o cristianismo.


O festejo, de cunho religioso, desfralda na dança, na música, na artesania, uma de suas expressões mais valorosas: a maneira como o povo o celebra gerações a fio, tecendo experiências e vivências afro-descendentes e portuguesas. “Encontrada em várias cidades, a Festa do Divino é uma festa de tradições populares e que encanta pela beleza estética que produz em momentos como a Entrada dos Palmitos”, afirma a professora Kátia Cilene de Mello Franco, coordenada da Faculdade de Artes Plásticas, da Universidade Braz Cubas.


Segundo ela, a importância da Festa – e de suas manifestações – está na possibilidade que o evento oferece para a preservação da identidade local. Por meio das impressões passadas de gerações a gerações. “É a partir da preservação que se cria o respeito pela identidade cultural de uma cidade. O respeito e o conhecimento dessas e do patrimônio que representa um tempo, uma cultura, é possível melhorar as relações sociais”, observa a mestre, que leciona há 15 anos na instituição, período em que acompanha de perto a Festa do Divino.


Outro aspecto relevante, observa a estudiosa, diz respeito ao valor dado pelo mogiano a esse patrimônio material e imaterial, cultivado em Mogi, segundo alguns registros, há quatro séculos. “A arte contemporânea independe da qualidade, porque ela é uma representação da cultura atual. Então, não há como dizer, por exemplo, que entre a folia, o funk e outros tipos musicais, qual é a melhor ou é a pior música, por exemplo. O importante é preservar, reconhecer as nossas tradições. A população cultua o que tem um valor local do seu patrimônio material e imaterial, como é o caso da Festa”, acrescenta.


Além de preservar a cultura popular encontrada no casamento dos versos e da viola caipira na Folia do Divino; ou na dança e instrumentos dos integrantes das congadas e moçambique, a Festa do Divino é fonte de inspiração e pesquisa para as artes plásticas, principalmente, a partir da metade do século passado, quando alguns dos principais artistas mogianos dedicaram tempo e criação ao tema.


A riqueza de emoções, cores e manifestações ainda emociona artistas como Olga Nóbrega que, neste ano, reproduziu um casal da Congada Folia do Divino Luz, do Distrito de Braz Cubas. “Eu acompanhei o encontro de folias, ocorrido semanas antes da Festa, e chorei muito enquanto via os grupos se apresentarem no palco da Praça Oswaldo Cruz”, compartilha.


Depois de assistir ao encontro, numa tradição iniciada alguns anos atrás pela Associação Pró-Festa do Divino, Olga procurou informações e elementos outros para compor o quadro da mostra em homenagem ao ex-secretário de Cultura, Denerjânio Tavares de Lyra, que pode ser conferida até hoje, na quermesse, no Mogilar.


“Artistas como AnaMarB, Wilma Ramos, Nerival Rodrigues, Valdesoiro e outros mais dedicaram tempo e pesquisa histórica e cultural para retratar essa riqueza que a Cidade possui e que precisa levar para as escolas. Os nossos alunos precisam entrar em contato com as nossas raízes”, adverte, observando que apesar da realização da mostra na quermesse, e da manutenção de obras em espaços como o Museu do Divino Amália Manna de Deus, agora na Capela do Divino, ao lado da Catedral, o portfólio artístico sobre o evento ainda é mal divulgado. “O encontro de Folias mesmo era para ser visto por muito mais gente”, inscreve.


Judeus e cristãos

A primeira vez que ouviu falar da Festa do Divino, Nerival Rodrigues tinha 12 anos. Morava com a família no Interior Paulista e ouviu em um radinho de pilha uma citação à comemoração porque se realizava em Mogi um encontro com alguma autoridade agrícola. “Quando eu mudei para Suzano, e depois para Mogi, pude compreender melhor do que se tratava. Primeiro vi os traços do meu amigo Claudio Assis, da Entrada dos Palmitos; e depois acompanhei, enquanto amador, as exposições que O Diário realizava com as artistas Wilma Ramos e Olga Nóbrega, e fui conhecendo com outros artistas mogianos a grandeza da Festa”, conta.


Hoje, com carreira completamente amadurecida, Nerival acredita que 10% de sua criação abordam a devoção ao Divino Espírito Santo. “Esse é um treino que tem um a responsabilidade artística, mas também está muito ligado ao Divino Espírito Santo que faz tudo fluir, e que está na escrita de todos, dos judeus e cristãos. A tradição de Pentecostes vem das primícias judaicas, o mesmo espírito que merece a festa em agradecimento aos bens que a terra nos dá, é um conforto sobre uma possível vida eterna, que começou a aparecer na história com os cristãos”, exalta.


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