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SOBRE A ARTE

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Moses Pendleton, fundador do Momix: ‘Todo teatro é político’


Fundador de duas potências do entretenimento mundial, as companhias de dança Pilobolus (1971) e Momix (1980), Moses Pendleton criou uma estética singular, que resulta da interação entre o elemento humano, o mundo natural e dispositivos tecnológicos. Em suas criações, sobretudo à frente do Momix, projeções oníricas, objetos cênicos inusitados e movimentos acrobáticos constroem um mundo de imagens nada realista, governado pelas leis da fantasia. Nesta terça-feira o Momix retorna ao Brasil com o espetáculo “Momix forever”, que estreia no Municipal e realiza seis sessões até domingo. Criado em 2015 para celebrar os 35 anos do grupo, o trabalho oferece ao espectador a chance de conhecer os pontos altos da trajetória da companhia, ao reunir cenas inéditas com trechos de clássicos como “Opus cactus”, “Bothanica”, “Sun flower moon” e “Orbit”, como Moses explica abaixo.


Quem não conhece o Momix poderá conhecê-lo num único espetáculo. E quem já conhece, o que esperar?

Selecionamos as cenas que sintetizam a estética que o grupo criou nestes 37 anos. São highlights somados a novas criações. Para quem conhece ou não o Momix, é bom esperar o inesperado. Esta é a nossa marca. As novas cenas são ainda mais visuais. Constroem um mundo diferente, bizarro. É mais arte visual do que dança.


Nessa linguagem visual e não verbal do Momix, as formas da natureza e os organismos não humanos dividem o protagonismo com o elemento humano. Se olharmos o repertório do Momix encontraremos um interesse central?

O ponto central é que sou fascinado pelo modo como os humanos se conectam com as vidas não humanas, com os animais, vegetais, os minerais. São as conexões entre o humano e o não humano que me interessam e constituem a estética do Momix. São essas relações que geram um tipo de teatro visual e físico, que não é criado para contar histórias. As nossas obras funcionam como a música, ou seja, criamos imagens para que fiquem gravadas na memória do espectador.


De que maneira o impacto negativo do homem na Terra, como as mudanças climáticas, afeta o seu trabalho?

Não fazemos um teatro político, nesse sentido, por mais que isso seja uma preocupação. As geleiras estão derretendo, os oceanos se elevando, as temperaturas subindo, e isso tudo vai afetar a vida dos insetos, dos sapos e também dos humanos. Não sei o quanto seremos capazes de impedir essas mudanças. Até aqui os humanos, enquanto evoluem, têm sido capazes de criar recursos para viver, e os mais fortes têm encontrado modos de sobreviver a partir do que experimentam. Talvez achemos outra forma de habitar a Terra caso as temperaturas subam para 300 graus. São mudanças que podem causar grandes metamorfoses. Não que isso seja bom, mas talvez seja inevitável. Sinto que a grande questão, hoje, diz respeito à interação entre humanos e a inteligência artificial. É o grande movimento diante de nós. Talvez esses robôs e superinteligências possam nos ajudar a resolver problemas como o aquecimento global, ou questões políticas. Talvez a gente precise da ajuda de seres mais capazes, não humanos que possam avaliar o sistema em que vivemos, como funciona e como pode melhorar.


O Momix busca criar uma outra realidade em cena. Isso é político?

Todo teatro é político em alguma medida. Nós não dizemos como o mundo é, mas como ele é na fantasia. Para mim, a fantasia é uma parte importante da realidade. Acho importante dividir com os outros o que imaginamos, e acho que nossas obras estimulam a imaginação. Se há algo político, então, é que nossas obras são parte de um sistema de bem-estar, como a educação e a saúde. É importante que as pessoas saboreiem e sintam coisas diferentes. Se uma peça estimula o imaginário e faz com que alguém se sinta mais vivo, acho que esse é o maior gesto político que podemos fazer.

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