Mergulhando no Universo de Salvador Dalí
É possível entrar numa obra de arte, literalmente? Foi esse o desafio a que a agência de publicidade Goodby, Silverstein & Partners se propôs com Dreams of Dalí, uma recriação em realidade virtual da obra Reminiscência Arqueológica da “Angelus” de Millet, pintada por Salvador Dalí em 1935.
Dreams of Dalí é um pequeno filme de realidade virtual concebido para a exposição “Disney and Dalí: Architects of the Imagination”, que aconteceu em 2016 no Museu Salvador Dalí (St. Petersburg, Florida).
Dreams of Dalí tem como objetivo recriar tridimensionalmente a pintura Reminiscência Arqueológica da “Angelus” de Millet. Por sua vez, esta obra do pintor espanhol é a uma interpretação pessoal da Angelus de Jean-François Millet, terminada em 1859. Quando Dalí era pequeno, a obra de Millet estava de tal forma difundida que passou a fazer parte do imaginário pessoal do futuro surrealista. Ao chegar o momento de lidar com a Angelus enquanto pintor, Salvador Dalí criou a sua versão pessoal. Interpretou-a com as suas próprias ferramentas, a mancha de cor sobre a superfície da tela.
Foi exatamente o mesmo que os criadores de Dreams of Dalí agora fizeram, quase um século mais tarde. Pegaram numa obra do imaginário colectivo a que pertencem e interpretaram-na com os recursos dos nossos dias. Dreams of Dalí não é, por isso, a recriação exata de uma obra de Salvador Dalí, mas sim uma criação própria cheia de referências à obra do pintor. Para tal, os criativos da Goodby, Silverstein & Partners tomaram a liberdade artística de construir as áreas que a pintura, pela sua bidimensionalidade deixou fora do âmbito do olhar. Assim como foram buscar elementos de outras obras de Salvador Dalí. Por exemplo, o telefone lagosta que toca enquanto atravessas a base de uma das ruínas ou os elefantes que quebram a imensidão do deserto, para não falar na sonoridade que ecoa pela outra ruína.
Quando vemos o mundo virtual de Dreams of Dalí não estamos entrando na obra que Dalí pintou em 1935, que permanece enigmática e aberta a interpretações. Estamos mergulhando numa obra que se encontra tão distante de Reminiscência Arqueológica da “Angelus” de Millet quanto esta, nos anos trinta do século XX, estava da Angelus de Jean-François Millet. Mas isso não reduz em nada a experiência concebida pela Goodby, Silverstein & Partners, que só tem a ganhar com a imersão possibilitada pelo Oculus Rift. Antes pelo contrário, faz dela uma experiência do seu tempo, impossível sem o progresso mais recente da realidade virtual. Simultaneamente, torna-a esmagadora, se não estiveres familiarizado com o universo de Salvador Dalí, ou aliciante, se for um dos teus pintores favoritos e tentares identificar cada referência.