Produção belga 'A garota desconhecida' discute refugiados na Europa
A ética ocupa o centro de “A garota desconhecida”, novo drama dos premiados irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, conduzido por uma médica, Jenny Danvin (a atriz francesa Adèle Haenel). O filme concorreu à Palma de Ouro em Cannes em 2016 e ao César, principal premiação francesa, em 2017.
O incidente desencadeador da trama é aparentemente banal e poderia ter acontecido em qualquer lugar. É noite quando toca a campainha do consultório de Jenny. Ela e seu assistente, Julien (Olivier Bonnaud), ainda estão ali dentro. Ele quer abrir, ela o impede, alegando que passou do horário. No dia seguinte, eles descobrem que uma garota, jovem imigrante africana, apareceu morta ali perto.
Pode ter sido um acidente ou um assassinato. Mas Jenny, que é uma médica dedicada, passa a atormentar-se pela culpa. Sabe que, se tivesse aberto a porta, poderia ter salvo a vida dessa moça, cujo nome os policiais não conseguem descobrir. É uma das muitas imigrantes ilegais que se escondem nos submundos das cidades europeias (aqui, Liège), exploradas em atividades como a prostituição.
Obcecada por descobrir o nome dessa moça, cuja imagem foi gravada pela câmera de segurança do consultório, Jenny passa a reconstituir seus passos. Anda com a foto do rosto dela no próprio celular, mostrando a clientes, conhecidos.
Nessa jornada, seu caminho se cruza com o de outras pessoas (interpretadas por dois atores-fetiche dos Dardenne, Olivier Gourmet e Jérémie Rénier), que também têm seu próprio quinhão de responsabilidade na trajetória da garota anônima -- cuja história pode ser completamente apagada se não se encontrar ao menos um indício do que se passou em seus momentos finais.
Como sempre, os Dardenne estão afinados com o momento político da Europa, sem afastar-se de sua permanente ligação com o que faz a essência da condição humana.
Por Neusa Barbosa